Wednesday, December 13, 2006

Nada de especial

Bem, aqui vai qualquer coisinha porque já não escrevo nada há muito tempo.

A casa está vazia. É noite profunda. Uma brisa penetra pela janelas com um tom invasor, espalhando-se contra as paredes, que parecem encolher-se com o frio. As cortinas tomam formas femininas, como fantasmas a cumprir uma profecia esquecida. O tecido esvoaça na tentativa de escapar a uma sombra desconhecida.

Duas penas entram, dançando, derramando um brilho branco pelo seu caminho de luz e poisando suavemente sobre a mesa de bronze da sala. O silêncio é apenas perturbado pela respiração de dois corpos, como monumentos construídos para se contemplarem para o resto da eternidade, aquecidos pela areia que agoniza no vento.

A ténue claridade do luar é ofuscada pelo brilho solar de Clara. Os longos cabelos louros escondem a sua face expectante. A minha mão levanta-se, incontrolável, e aterra no seu pescoço. Queimo-me, mas mantenho o meu gesto, sem apertar. Não pareço estar no comando das minhas acções. Por mais que me queira afundar naquele corpo é-me impossível fazê-lo sem me envolver num oceano de carícias. O beijo atrás da orelha, o momento em que os dois ouvimos o seu gemido, aquele “ah” que não é feito no pulmão mas no coração.

Os meus lábios percorrem-na, a pele fina e o interior sobrenatural, detêm-se em linhas e cabelos, sulcos e mares da face. Nem sinais invisíveis naquela escuridão são poupados à minha procura. Roubo-lhe a saliva que tenta esconder na boca. Sabe a mel. Roubo um pouco mais, ela, em vão, tentando impedir-me, parecendo deliberadamente abatida e magoada para me provocar, como se lhe tivesse arrancado um filho. Pousa a mão na minha face e morde-me com força no lábio. O sangue hesita, como se receoso de ser apanhado por Clara, e, qual morto, lentamente se espalha.

- A dor que sentes é o meu amor por ti – diz, com aqueles olhos verdes feridos. – Quero que a sintas todos os dias da tua vida. Quero que seja uma ferida aberta em ti, sangrando para sempre, como o é em mim. Quero que a esfregues com sal e te arda ainda mais.

Com a língua limpa-me a carne do líquido escarlate. Fica estática à espera que eu continue. O nosso amor é estranho, polvilhado de sentimentos fora do comum. As coisas que dizemos um ao outro parecem não fazer sentido. O que sentimos é dor e adoramo-la.

As bocas juntam-se, descobrem-se, envolvem-se numa só coisa, na solidão do mundo escuro. Provamo-nos um ao outro e quanto mais gostamos mais forte é o calor entre nós. A minha pele parece ser atraída pela dela e o espaço é cada vez menor para gestos expansivos. Soltamo-nos uns segundos para respirar. Toco-a por toda a parte, braços, cabelo, pescoço, seios, ombros. Clara aproxima a cabeça e roça-se na minha orelha, mordiscando-a e emitindo pequenos sons que mais parecem de extrema felicidade do que de excitação. Ainda bem. Também me sinto assim.

J&B

2 comments:

Maya said...

barata barata..

epah es o meu idolo!! :D obrigada por dares o teu contributo neste blog qe em tempos ja teve mais visitantes.. ng faz publicidade ao blog :'(

btw, nem preciso de dizer o que achei deste post pois nao? acho que me estaria a repetir :D

Anonymous said...

Quando começei a ler nao pensei q o texto fosse falar disto, dps vi o q era,imaginei a cena...percebi q é violento, amoroso, intenso, muito bom,no fundo "nada de especial"! Gostei! ;)*